Creio que o pensamento político
daqui pra frente precisará romper com a dicotomia clássica entre esquerda e
direita, comunismo ou capitalismo, liberalismo ou socialismo. Mas não no
sentido anacrônico que vemos hoje, de uma convergência pragmática que patrocina
a ruína programática e ideológica. Não um pensamento interideológico, mas sim
extra e supraideológico, uma ideia que seja capaz de reunir pontos flexíveis e
positivos de cada polo do pensamento político global e convergi-los a serviço
de uma lógica que priorize o desenvolvimento humano. Assim, o industrialismo, a
sustentabilidade, o ruralismo, o desenvolvimentismo não serão mais a causas das
transformações, mas consequências previstas e devidamente administradas tendo
como pano de fundo o desenvolvimento humano dos povos.
Para isso será preciso uma
revisão racional, sem paixões polarizadas, sem julgamentos de juízo conceptivo,
para que possamos humildemente e com hombridade reconhecer nos clássicos e nas
releituras instrumentos inovadores, de então, e perfeitamente viabilizadores de
uma nova ordem política, social, econômica, cultural e ambiental.
Assim, precisaremos rediscutir
temas básicos para realicerçarmos uma nova ideia política. Para instaurarmos
uma nova ordem política, social e econômica, precisaremos reconceber visões
modernas do que é o ser, o ser humano, o trabalho, a cidade e a cidadania, a
política, o Estado e assim atualizar nosso entendimento sobre o Direito a
liberdade e os fatos (os fenômenos). Precisaremos repensar a lógica governista
para além do debate democrático e por isso mesmo reconsiderarmos nossa
compreensão do que seja a democracia.
E após compreendermos a dimensão
ontológica do ser humano, poderemos partir para a lógica futurista de
valorização da dimensão espiritual do homem, mas jamais em detrimento da
dimensão física e material, que é secundária, mas que também é importante. Para
que então tenhamos fundamentos e legitimidade para instaurarmos uma cultura de
superação da fragmentação social comunitária pelas classes, de fato existentes,
de compreensão mais aproximada e encampada por cada indivíduo de sua dimensão
política de forma consciente e assim voluntaria e protagonista. De
fortalecimento e disseminação dos compostos fundamentais da democracia, da
construção, por conseguinte, de uma ordem estamental e socialmente voltada para
o desenvolvimento espiritual do homem, de suas faculdades mentais, de sua
intelectualidade, do desenvolvimento de seus dons naturais, perpassando em
todos os momentos pela ciência, religião e filosofia do futuro. Superando a
falácia liberal e privatista.
Nossa nação será a grande nação
do planeta quando almejar e conquistar uma liderança inédita, a liderança do
desenvolvimento humano, construída com bases numa nação ideologicamente
flexível e madura e ativamente participante. Para tanto, não precisaremos
partir do zero, num movimento ultrapassado de negação de tudo o que já se
pensou e se fez e viveu no planeta até aqui, mas sim com um olhar humildemente mais
amplo, caridoso e atento será possível reunirmos um caudal ideológico para a
fixação de um forte ponto de partida.
É possível e necessária uma
escola de pensamento político que supere o conservadorismo, que voluntariamente
ou não, impede a evolução intelectual e da
dimensão política de nossa nação. Que vença o messianismo e o puritanismo
arrogantemente predatórios e que responda ao anarquismo que banaliza e que
renega a própria história do homem.
O grande desafio do pensamento
político futurista será manter-se fiel as suas próprias bases mais simples e
profundas, algo inédito na história global do pensamento político.